Ah, senta aí, que hoje eu vou te contar a história do vilarejo de Dois Pesares um lugarzinho encravado no meio do nada e cheio de tudo: cheio de gente que reclama, mas não larga o osso.
Era uma vez, num canto qualquer do mundo, um vilarejo dividido por um rio.
De um lado moravam os ricos, no bairro do Ouro Fino, com mansões que brilhavam até de noite.
Do outro lado, os pobres viviam no bairro da Terra Batida, onde o asfalto era promessa e a luz piscava mais que vaga-lume bêbado.
Mas veja bem: tanto os ricos quanto os pobres, apesar de diferentes no bolso, eram iguais num negócio só o grito por mudança.
Na praça central, que ficava bem na ponte que ligava os dois lados, se encontravam todo mês pra fazer a tal da “Assembleia do Desabafo”.
Era grito, discurso, dedo na cara e até foguetório.
Um dizia: “Esse sistema tá falido!”
E o outro completava:
“A gente precisa de justiça, igualdade, pão quentinho e respeito!”
Aí aparecia o Doutor Marcelino, um rico daqueles com anel no dedo e orgulho no peito, gritando que os pobres tinham que aprender a empreender.
Já Dona Zefa, do lado da Terra Batida, rebatia:
“A gente quer mudança, mas não quer abrir mão do nosso jeitinho.
E se for pra mudar, que mude do nosso jeito!”
E é aí que a história começa a embolar.
Porque, veja só: o povo do Ouro Fino queria mudança… mas não queria perder o conforto, nem abrir mão da empregada que lavava até o pensamento deles.
Queriam mais igualdade, desde que a garagem continuasse cabendo três carros importados e o filho continuasse estudando em escola com ar-condicionado e aula de francês.
Do outro lado, o pessoal da Terra Batida também gritava por justiça, por saúde, por escola…
Mas não queria sair da sombra da mangueira nem largar o costume de votar em quem pagava a caixa de cerveja.
Quando a prefeitura chamou pra mutirão de limpeza, foram dois: o varredor oficial e o cachorro dele.
E assim, o tempo foi passando, a ponte foi envelhecendo, os discursos continuavam e as promessas também.
Até que um dia, um menino filho de ninguém importante subiu no coreto da praça, com a cara suja de sorvete e o coração limpo de vaidade.
E gritou:
“Vocês querem mudança, mas ninguém quer mudar!
Rico quer justiça, mas não quer descer do salto.
Pobre quer respeito, mas não quer sair da zona de conforto.
Até quando a gente vai viver nesse grito que não age?”
O silêncio caiu como véu de viúva em dia de enterro.
E naquele dia, ninguém bateu palma.
Mas também, ninguém esqueceu o que o menino disse.
Moral da história?
A mudança mora na casa de quem primeiro muda por dentro.
E enquanto todo mundo ficar esperando o outro dar o primeiro passo, a ponte entre Ouro Fino e Terra Batida vai continuar sendo só um lugar pra gritar… e nunca pra atravessar.
Quer mudar o mundo?
Comece arrumando a bagunça dentro de casa.
Esta e uma história fictícia seus locais e personagens não existem, em caso de semelhança foi por mero acaso.
***FIM***
Ordem e Progresso
Liberdade Ainda que Tardia
#ordemeprogresso #liberdadeaindaquetardia
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