Pois então, meu cumpadi e minha cumadi, senta que lá vem história, daquelas que parecem mentira, mas se a gente olhar bem, é a vida que conta igualzinho…
Era uma vez um lugar chamado Esperança do Vale.
Um lugar bonito, com praça no meio, igreja de sinos trincados, e um povo que, apesar das lutas, sorria com facilidade.
Lá, morava um sujeito chamado Juvenal do Pasto, homem simples, de fala mansa, bigode fino e chapéu de palha rasgado.
Juvenal era aquele tipo que cumprimentava até poste, de tanto que gostava do povo.
Do outro lado da cidade morava o vereador Tibúrcio Granfino.
Um homem elegante, terno engomado, sapato de couro de boi argentino, e um sorriso treinado no espelho.
Tibúrcio tinha dois lados — um que aparecia na televisão da cidade falando bonito e prometendo céu com estrela, e outro que se escondia nos bastidores, molhando a mão e engordando os bolsos.
Um dia, a cidade entrou em alvoroço porque ia ter uma licitação pra reformar a escola velha.
A que o povo chamava de “Escola Desterro”, não por nome, mas porque estudava lá quem era esquecido por todo mundo.
A criançada aprendia mais com a vida do que com o giz.
Juvenal, que era pedreiro e pai de três meninos que estudavam lá, resolveu ir na Câmara cobrar explicação:
— "Num é possível, seu vereador, três anos prometendo reforma e só aparece tijolo na eleição!"
Tibúrcio sorriu daquele jeito que nem mosquito pousava.
— "Meu caro, está tudo no planejamento.
A burocracia é grande, mas estamos fazendo o melhor."
Mas na calada da noite, Tibúrcio negociava com a empresa do cunhado pra vencer a licitação.
Ia superfaturar até o cimento e usar areia do rio mesmo, sem lavar, pra economizar.
E ainda jurava por Nossa Senhora que tava fazendo pro bem do povo.
E foi aí que apareceu outro personagem: a dona Marluce da Padaria.
Mulher retada, voz grossa e dedo apontado.
— “Se o povo é bobo, o pão murcha.
Mas se o povo acorda, o fermento cresce!”
Ela e Juvenal começaram a investigar.
Pegaram papelada, tiraram foto de orçamento, gravaram conversa.
Tudo com um celular que parecia mais um tijolo de tão velho.
Até que descobriram o esquema.
Levaram tudo pro promotor da cidade.
Só que veja bem, nem todo promotor gosta de justiça quando ela bate forte.
E o promotor, que também era padrinho do neto do vereador, engavetou tudo.
Mas a história não para aí.
Veio um novo vereador, o Zé Cotinha, lá do bairro do Areião.
Zé era honesto até demais, daqueles que contava moeda de troco e ainda devolvia centavo.
Mas apanhava dos dois lados: dos corruptos que queriam calar ele, e dos cidadãos que diziam que ele “não fazia nada”.
Porque Zé não comprava voto, não dava favor, não enchia tanque de ninguém.
Só falava de educação, saúde e ética.
E isso, infelizmente, ainda não enchia barriga.
O povo, que também tem dois lados — o que reclama com razão e o que se vende por uma cesta básica — ficou dividido.
Eis então que numa noite, Juvenal subiu na mureta da praça e falou com voz embargada:
"Não adianta ter vereador honesto com povo desonesto.
Nem adianta ter povo honesto com político ladrão.
O que muda mesmo é quando os dois lados se encaram no espelho e decidem ser melhores juntos."
A praça ficou em silêncio.
Até o sino da igreja pareceu escutar.
Desde então, em Esperança do Vale, algumas coisas mudaram.
Não todas.
Porque mudar gente leva tempo.
Mas começaram a prestar mais atenção nos dois lados da moeda.
Porque no fim das contas, minha gente, político sai do povo.
Se a fonte tá suja, a água vai sair barrenta. Mas se limpar a nascente, até o ribeirão corre mais bonito.
E assim termina essa prosa. Mas fica a pergunta: você tem sido que tipo de cidadão?
E votado em que tipo de vereador?
Contado por Contador de Historias, o que vê, escuta e transforma em história.
Porque quem não aprende com as histórias, acaba virando parte das mais tristes.
Esta e uma história fictícia seus locais e personagens não existem, em caso de semelhança foi por mero acaso.
***FIM***
Ordem e Progresso
Liberdade Ainda que Tardia
#ordemeprogresso #liberdadeaindaquetardia
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